O projeto do Cenpes, por Siegbert Zanettini05/10/2010 | Revista Grandes Construções - Agosto 2010
"A arquitetura proposta, em co-autoria com José Wagner Garcia, para a extensão do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) constitui-se conceitualmente em novo paradigma para a arquitetura brasileira, possibilitado pela postura pioneira dessa empresa que já na estruturação do edital do concurso incluiu questões sobre eco-eficiência, sustentabilidade, utilização de condições ambientais naturais, incorporação de novas formas de energia e interação com os ecossistemas natural e construído. Essa abordagem veio na esteira de várias experiências por nós efetuadas, no tocante ao uso de tecnologias limpas em projetos realizados e que encontraram nesta oportunidade as condições propícias para uma ocorrência global dos fundamentos que definimos como arquitetura contemporânea e ecossistêmica. Em todos os aspectos do projeto ele é inovador, tanto no seu todo como em suas partes: integra e coordena arquitetura, estrutura, sistemas de ecoeficiência, paisagismo, recuperação da paisagem, comunicação visual, economia, planejamento e organização da obra. Neste projeto não existe o complementar: todas as disciplinas criaram, inovaram e comprovaram sua influên-cia no resultado final da arquitetura. Esta atitude perante o projeto envolvendo 140 especialistas num corpo sistêmico com contribuições de avanço em todas as áreas do projeto, incluindo a preocupação construtiva, resultou num processo sistêmico claro e estruturado, que será transferido para outros projetos da Petrobras e a seus parceiros, e fica como uma nova forma integrada de metodologia de projeto para a cadeia produtiva da construção. O partido adotado Como decorrência, o Centro de Convenções - com o Auditório do Cenpes, salas de reuniões, lanchonete e área de eventos - se situa no local mais próximo possível do Cenpes atual, na extremidade oposta da Passa-gem Subterrânea e constitui o portal de entrada do Cenpes ampliado para o público que a ele se dirige, possibilitando seu uso para as mais diversas atividades culturais e educativas, sem que elas interfiram na vida científica deste novo Centro - importante equipamento para todo o complexo , inclusive do CIPD-RIO. Sua localização também foi definida em função da proximidade da vegetação à mata envoltória, possibilitada pelo espaço existente e complementação do plantio. Os estacionamentos frontal e lateral posteriormente anexados foram locados de modo a ocupar os espaços vazios de vegetação da melhor forma possível e receberão igual cuidado ambiental e paisagístico, com marcante sombreamento de espécies vegetais adequadas. Do Centro de Convenções parte o eixo Norte-Sul principal, coluna vertebral de articulação de todas as ati-vidades de produção científica, dos laboratórios e escritórios no pavimento térreo; dos escritórios nos dois pavimentos superiores, que exploram a visual marinha; e das salas de visualização do CRV, do CIC e Biblioteca no 10 pavimento, e ao bloco separado do CRV (Holospace e Cave), articulados por um eixo central de circulação de usuários internos e externos. Na extremidade norte deste eixo, estão situados o Restaurante Central e o Orquidário, que finalizam este bloco central com o primeiro voltando-se para o mar, ocupando uma posição privilegiada junto ao CIPD-RIO. Ao lado, encontra-se o espaço destinado ao Posto Eco-Tecnológico, completando esta trama espacial. Sua locação mantém sua independência funcional, abrindo-se para o exterior do terreno pela Avenida Jequitibá. Este eixo articula também todo o sistema de energia, através de um Piperack, originário da Central de Utilida-des, de onde partem, em mesma cota, um Pipe-rack principal que ocupa o primeiro pavimento do Prédio Cen-tral, que se liga ortogonalmente aos pipe-racks que atendem às Alas dos Laboratórios e Planta Piloto, conec-tando-se no extremo sul ao armário de instalações da Passagem Subterrânea até o edifício atual do Cenpes, aos edifícios da Empreiteirópolis, Almoxarifado e Oficinas, através de tubovia. O pipe-rack possui, ao longo de toda sua extensão dentro da projeção do Prédio Central, salas de painéis e equipamentos, além de casas de máquinas, baterias e no-break, e centrais setoriais de ar condicionado, definindo o Primeiro Pavimento como uma grande área técnica. O sistema viário foi definido de modo que todos os espaços de trabalho sejam atendidos por circulações de serviço, permitindo a circulação de veículos necessários para a operação dos edifícios, bem como para alterações ou ampliações dos mesmos. Este sistema viário conecta também os vários blocos de apoio às áreas da Empreiterópolis, Oficinas, Almoxarifado e RSUD com suas docas de acesso voltadas para uma via secundária externa. Os estacionamentos de veículos ocupam estrategicamente os espaços vazios, distribuídos em função de cada área de trabalho. O estacionamento de ônibus concentra-se de forma ordenada em área reservada na via lateral exterior, com acesso pela avenida, de forma a facilitar a entrada e saída dos veículos. Foi previsto também estacionamento para 150 bicicletas. O partido adotado reflete também a condição de "obra aberta", que entende o espaço relativizado no tempo em função da evolução das necessidades, imprimindo às soluções grande flexibilidade para ampliações e reformulações, de acordo com novos usos. Vale ressaltar que todas as soluções adotadas apoiam-se em bases científicas, no que diz respeito a urbanização, arquitetura e arquitetura de interiores, aos sistemas de conforto ambiental e eficiência energética, aos sistemas prediais de utilidades, aos sistemas construtivos e estruturais e à recomposição dos ecossistemas naturais. Arquitetura Ecossistêmica e Sustentável Essa abordagem veio ao encontro das várias experiências por nós efetuadas no tocante ao uso de tecnologias limpas em projetos realizados, e que encontra nesta oportunidade as condições propícias para uma ocorrência global dos fundamentos daquilo que definimos como arquitetura ecossistêmica e sustentável. Padrões éticos e eqüidade social Nesse sentido foi de transcendental importância a inserção no projeto de um Centro de Convenções, com auditório, salas múltiplas de reuniões, áreas para eventos e exposições abertas ao público interno e externo, e também como local de congregação do público universitário e da própria Petrobras. Este novo espaço abre oportunidades e cria condições favoráveis ao desenvolvimento de programas sociais junto à comunidade envolvente da baixada fluminense, alguns já em andamento. Pelo fato da Petrobras ser o maior incentivador público no Brasil na participação e no patrocínio de programas culturais, esportivos e sociais, certamente irá contribuir, especificamente com este projeto, ainda mais na renovação e no desenvolvimento de idéias e como centro de referência na arquitetura brasileira, atendendo aos usuários com alto grau de satisfação e de segurança, assegurados em todos os quesitos do projeto e da obra pela aplicação de normas técnicas nacionais, internacionais e da própria Petrobras. Qualidade Ecológica e Conservação de Energia O diagnóstico das condições climáticas locais destaca a importância de estratégias de sombreamento e ventilação, como meios passivos para o conforto ambiental nos espaços internos e externos do conjunto. Es-truturas envoltórias e de coberturas assumem um papel de referência na concepção tanto dos espaços abertos como dos edificados. Envoltórias e membranas protetoras atuam na mediação climática entre o meio externo e os espaços internos, protegendo os edifícios do sol e da chuva, e mantendo o aproveitamento da ventilação e iluminação naturais. No que tange ao interior dos edifícios, a proposta é marcada pela maximização do uso de estratégias passivas para a climatização nos períodos de condições externas favoráveis, enquanto que nos períodos de necessidade do ar condicionado a proteção dada aos edifícios cumpre com a função de minimizar o consumo de energia. Quanto aos materiais, a predominância do aço traz vantagens no que diz respeito às questões de impacto ambiental global das construções. Isto porque o tempo superior de vida útil da estrutura em aço, em comparação às soluções alternativas, somado às possibilidades de reutilização e reciclagem, minimiza o impacto ambiental de sua energia incorporada. Considerando as vedações das edificações, os painéis pré-moldados de concreto como fechamento externo, os painéis duplos de drywall com manta sintética interna nas vedações internas e as coberturas protegidas por placas sanduíche de alumínio pré-pintado em cores claras, preenchidas com material de proteção térmica, foram especificados com base em seu desempenho térmico e sua compatibilidade com o sistema estrutural. Os ganhos no conforto interno e na economia de energia pela redução do uso de ar condicionado é mais uma vantagem ambiental desses materiais. Desempenho econômico e compatibilidade Cenpes II – Ampliação do Centro de Pesquisa Equipe Técnica Projeto de Arquitetura Equipe Técnica Projetos Complementares Projeto de Instalações: MHA Engenharia Ltda Structural Protection Specialist: Fábio D. Pannoni |