Detalhamento de projeto de estruturas de açoManutenção e vida útil01/09/2010 | Revista Téchne - Agosto 2010
A norma brasileira NBR 15575 Desempenho de Edificações Habitacionais de Até Cinco Pavimentos, em vigor desde 12 de maio, estabelece requisitos e critérios de desempenho sob a ótica das necessidades do usuário. Essas exigências, antes subjetivas, tornaram-se requisitos técnicos, com parâmetros determinados. O prazo para adequação de projetos à norma é de seis meses. Assim, a partir de 12 de novembro, todos os projetos protocolados nas prefeituras devem estar de acordo com a Norma de Desempenho. A norma é dividida em seis partes. A primeira delas define as exigências dos usuários, que se transformam em requisitos tais como: segurança (contra incêndio, no uso e na operação), habitabilidade (estanqueidade, conforto térmico, conforto acústico etc.) e sustentabilidade (durabilidade, manutenibilidade e impacto ambiental). Cada requisito tem critérios mínimos definidos, ou, se for o caso, são indicadas as normas a serem consideradas. A vida útil de projeto e a garantia O projeto do edifício deve especificar a VUP para cada um dos sistemas que o compõe (estrutura, cobertura, vedação vertical externa etc.). Os sistemas do edifício devem ser adequadamente detalhados e especificados em projeto, de modo a possibilitar a avaliação da vida útil. Os prazos mínimos de VUP para cada sistema da edificação são definidos conforme a tabela 1. ![]() A avaliação do critério de durabilidade é feita pela verificação do cumprimento das exigências estabelecidas em normas brasileiras que estejam relacionadas com a durabilidade dos sistemas do edifício. Exemplos de tais normas são a NBR 6118 (para as estruturas de concreto) e a NBR 8800 (para as estruturas de aço e estruturas mistas aço-concreto). A verificação pode ser feita, ainda, pela comprovação, por ensaios, da durabilidade dos elementos e componentes dos sistemas, ou, ainda, pela análise de campo, utilizando a inspeção de protótipos. O atendimento à vida útil de projeto O que diz essa norma a respeito da durabilidade? Onde a norma interage com a NBR 15.575 na avaliação da durabilidade? A norma, revisada em 2008, inclui um anexo normativo - o Anexo N - que trata especificamente da durabilidade de componentes de aço frente à corrosão. Esse anexo é um poderoso auxiliar no atendimento da VUP mínima para as estruturas que pertencem ao escopo da NBR 8800. Quais os pontos fundamentais no Anexo N? Escolha do sistema de proteção adequado A norma ISO 12944-2 pode ser utilizada para essa qualificação. Ela divide os ambientes atmosféricos em seis categorias de agressividade: Cl: Muito baixa agressividade A tabela 2 reproduz parte daquela existente na norma. Ela inclui exemplos típicos de enquadramento. ![]() Métodos corriqueiros usados na proteção Existem várias fontes de consulta para uma correta especificação de um sistema de pintura. Uma das mais conceituadas é a norma ISO 12955-5. O manual intitulado "Projeto e Durabilidade", do CBCA (Centro Brasileiro da Construção em Aço), disponível gratuitamente para download no website do CBCA, traz alguns dos sis-temas propostos por essa norma. Como especificar corretamente um sistema de pintura para uma estrutura (externa) localizada, por exemplo, na cidade de São Paulo? A tabela 2 permite enquadrar São Paulo na categoria de agressividade "C3". Quais os sistemas que podemos escolher para a proteção da estrutura? A observação da norma - ou do manual - mostra várias possibilidades, desde sistemas de "baixa durabilidade': que exigem manutenção a cada dois cinco anos (por exemplo, um sistema alquídico com espessura seca de 120 micrômetros) até sistemas que necessitam de manutenção em prazos superiores a 15 anos (por exemplo, um sistema epoxídico com espessura seca de 200 micrômetros). É importante ressaltar que nenhum desses sistemas conseguirá vencer a VUP da estrutura sem intervenções para manutenção. Haverá, provavelmente, três grandes intervenções para repintura ao longo de, por exemplo, 40 anos. Um sistema de pintura mais robusto - como o epoxídico citado acima - permite um menor número de inter-venções ao longo dos anos. De modo geral, um sistema mais caro, aplicado ainda na confecção/montagem da estrutura, costuma ser muito mais econômico ao longo dos anos que um sistema de baixa durabilidade. ![]() Como especificar, por outro lado, a galvanização dos componentes? O período de proteção dado pela camada de zinco depende, fundamentalmente, para uma dada agressividade ambiental, da espessura da camada depositada. A norma ISO 12944-2 traz a perda de massa ou de espessura por unidade de área superficial para o zinco (e também para o aço) durante o primeiro ano de exposição, para ambientes de diferentes níveis de agressividade (C1, C2 etc.). A figura 1 traz esses dados em forma gráfica. Um ambiente C3 - como a cidade de São Paulo - é caracterizado, pela norma, por uma perda de zinco situada entre 0,7 e 2,1 micrômetros por ano, durante o primeiro ano. Assim, os 40 anos exigidos da VUP podem ser atingidos ou suplantados com uma espessura mínima de camada de zinco de 85 micrômetros (ou 610 g/ m2) - um valor mínimo, a ser aplicado segundo a norma ISO 1461. A durabilidade do revestimento de zinco ficará situada entre (85/2,1) = 40,S anos e (85/0,7) = 121 anos, isto é, nenhuma manutenção será necessária ao longo da VUP de 40 anos. ![]() É importante ressaltar que cada caso é um caso. Existem situações em que a pintura é a forma mais econô-mica de proteção e situações em que a galvanização deve ser o caminho escolhido. Não tenha idéias pré-concebidas a respeito de um ou outro sistema. Não se deve esquecer que o zinco pode ser pintado, com vantagens. A soma dos tempos de proteção oferecidos pela galvanização e pela pintura é sempre maior do que as somas individuais - há sinergismo. Vamos, agora, abordar uma das mais importantes formas de se controlar o processo de corrosão. Trata-se da aplicação das boas práticas no detalhamento do projeto. É considerada uma medida ativa de controle da corrosão. O manual do CBCA e a norma ISO 12944-3 tratam desse tema com profundidade. ![]() Acessibilidade Espaços estreitos entre elementos devem ser evitados tanto quanto possível. Onde não seja possível evitar espaços restritos, por razões estruturais ou práticas, as recomendações descritas na figura 2 devem ser avaliadas. Algumas regras devem ser, sempre que possível, obedecidas, quando pensamos em acessibilidade: Todas as precauções de controle da corrosão incluídas no projeto devem ser inspecionáveis, repetitíveis e reparáveis com facilidade, para uma dada localização e ambiente. A figura 3 ilustra uma situação em que o acesso para inspeção e reparo é inexistente. A manutenção da pintura deve ser feita no menor tempo possível de execução, para a minimização de in-terferências, ou, então, deve ser tão espaçada (no tempo) quanto possível. Esta última opção é especialmente útil para estruturas, equipamentos e componentes localizados em pontos de difícil acesso. O projeto deve contemplar a redução do custo e do grau de dificuldade da manutenção subseqüente a um mínimo, incluindo o desmonte e remonte eventual de componentes estruturais e equipamentos, limpeza, preparo de superfície etc. Complexidade A retenção de água e sujeira deve ser evitada tanto quanto possível. As figuras 5 e 6 ilustram alguns exemplos de arranjos geométricos considerados bons e ruins. ![]() Frestas ![]() Soldagem Os cordões de solda não devem possuir imperfeições (asperezas, espirros, furos etc.) que dificultem o recobrimento do sistema de pintura escolhido. Soldas feitas em campo muitas vezes são irregulares e tornam o recobrimento da tinta desuniforme. Haverá pouca tinta nos picos e muita tinta nos vales. O sistema de pintura, desse modo, não atingirá a durabilidade estimada pelo projetista. ![]() Outro problema trata da existência de escória, liberada pelo eletrodo, e não convenientemente retirada. As escórias são higroscópicas. Pelo fenômeno da osmose, o vapor de água migrará tinta adentro, até a interface metal/escória. O processo de corrosão, então, se instalará, e, mais uma vez, o sistema de pintura não atingirá a durabilidade estimada. A figura 9 ilustra o conceito. Superfície ![]() Onde e quando for possível, altere a localização dos enrijecedores e componentes semelhantes, do lado exposto às condições mais agressivas, para condições de exposição mais favoráveis (figura 11). Componentes estruturais que serão decapados (por exemplo, aqueles destinados à galvanização) deverão possuir geometria (e também técnicas de fabricação) que promovam a continuidade da superfície, sem a criação de frestas, ![]() Caixas e tubos a serem galvanizados deverão possuir aberturas adequadas, permitindo a entrada e saída dos líquidos utilizados no processo (como, por exemplo, o ácido utilizado na decapagem). ![]() NBR 15575 - Edifícios Habitacionais de Até Cinco Pavimentos - Desempenho, Partes 1 a 6. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2008. NBR 6118 - Projetos d'e Estruturas de Concreto - Procedimento. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2007. NBR 8800 - Projeto de Estruturas de Aço e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto de Edifícios. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2008. ISO 12944-2 - Paints and varnishes Corrosion protection of steel structures by protective paint systems: Part 2 - Classification of environments. International Organization for Standardization, Geneve, 1998. ISO 12944-5 - Paints and varnishes - Corrosion protection of steel structures by protective paint systems: Part 5 - Protective paint systems. International Organization for Standardization, Geneve, 1998. Projeto e Durabilidade. F. D. Pannoni. Instituto Aço Brasil/Centro Brasileiro da Construção em Aço. Rio de Janeiro, 2009. Disponível para download gratuito em www.cbca-iabr.org.br. ISO 1461- Hot dip galvanized coatings on fabricated iron and steel articles - Specifications and test methods. International Organization for Standardization, Genéve, 2009. ISO 12944- 3 - "Paints and varnishes - Corrosion protection of steel structures by protective paint systems: Part 3 - Design considerations. International Organization for Standardization, Geneve, 1998. |